...se o João Pestana andava a rodear os espectadores, Hugh Jackman fez, logo à partida, questão de nos dizer "oh, meus amigos, toca a acordar que eu não venho aqui brincar". Ele e Anne Hathaway. Este número de abertura é qualquer coisa.
- Sim, Hugh Jackman é um grande apresentador (e digo isto sem qualquer parcialidade própria da minha condição feminina).
- Sim, o número de abertura foi dos melhores que vimos desde há uns bons tempos. Dança techno para O Leitor é qualquer coisa de inesquecível.
- Sim, foi comovente ver a família de Heath Ledger a receber o Óscar póstumo. Foi comovente para nós e para todos os que estavam sentados no Kodak Theatre e deixaram escapar uma lagrimazinha na altura.
-Sim, já era tempo de Kate Winslet vencer o Óscar. A forma convicta como sobe ao palco é a cereja no topo do bolo.
-Sim, é bonito o momento em que Sean Penn dá a redenção pública a Mickey Rourke, chamando-o de irmão e felicitando-o pelo seu regresso.
-Sim, Ben Stiller estava mesmo a imitar a figura triste que Joaquin Phoenix fez junto de David Letterman há uns dias atrás.
- E, sim, é bom ver que a Academia está aberta a novas opções e até já premeia pequenos grandes filmes como Quem Quer Ser Bilionário?
Para o ano há mais. Se quiserem detalhes rigorosos passem por aqui.
O The Guardian colocou hoje online uma série de treze misturadas de palavras que correspondem a treze discursos de vencedores de Óscares. A ideia é, no meio da confusão, tentar adivinhar a quem pertencem.
Foram 13 nomeações as reservadas para O Estranho Caso de Benjamin Button, de David Fincher. No habitual cenário, o presidente da Academia Sid Ganis e o também membro Forest Whitaker anunciaram há poucas horas os felizes contemplados com nomeações para os Óscares e, confirmaram muitas das expectativas criadas.
O Estranho Caso de Benjamin Button é uma obra ao gosto da Academia mas, na humilde opinião desta que vos escreve, o seu destino na noite de 22 de Fevereiro vai ser um de dois: ou limpa quase todos os prémios para que está nomeado, ou levará poucas ou nenhumas estatuetas. Apenas um palpite.
A concorrer para Melhor Filme, apenas uma carta fora do baralho: The Reader, de Stephen Daldry. Frost/Nixon, Slumdog Millionaire, Milk e Benjamin Button já eram nomeações prováveis. E curiosamente, este ano temos dobradinha nas nomeações para Melhor Filme e Melhor Realizador. Stephen Daldry, Ron Howard, Danny Boyle, Gus Van Sant e David Fincher têm o nome na lista para o prémio de Melhor Realização e vêem os seus filmes nos nomeados para Melhor Filme.
Kate Winslet volta a ser nomeada para Actriz Principal, tendo de concorrer com nomes como Meryl Streep e Angelina Jolie, mas, inesperadamente, recebe a nomeação por The Reader e não por Revolutionary Road, como seria de esperar. De resto, o filme de Sam Mendes talvez tenha sido, injustamente, a ausência mais notada, visto que apenas compete na categoria de Guarda-Roupa e vê Michael Shannon a ser nomeado para Melhor Actor Secundário.
Quanto a Heath Ledger, nada de novo (e vai levar o prémio, claro).
Depois, Wall-E lá tem a nomeação (e vai levar a estatueta, claro) na categoria de Melhor Longa-Metragem de Animação (como merecia estar entre os nomeados para Melhor Filme, oh como merecia!) e A Valsa com Bashir surge perdido apenas no meio dos concorrentes a Melhor Filme de Língua Estrangeira. Nada de surpreendente, portanto.
Note-se uma pequena agradável surpresa. Penélope Cruz foi nomeada para Melhor Actriz Secundária pelo seu papel tresloucado em Vicky Cristina Barcelona.
Agora, resta-nos esperar até ao próxima dia 22 de Fevereiro, onde imperarão o café e as emoções fortes. É que não há noite como a noite dos Óscares, meus caros. Não há.
Podem conferir todas as nomeações aqui.
A Academia reuniu-se e anunciou os sortudos vencedores. Os irmãos Coen foram os senhores da noite com direito a honras para melhor filme e melhores realizadores por Este país não é para velhos. Haverá Sangue levou duas estatuetas mas o cineasta Paul Thomas Anderson saiu de mãos a abanar. No departamento dos actores, todos os oscarizados têm uma particularidade: não são americanos.
No Kodak Theatre, a noite não foi de grandes surpresas nem de grandes números. O grande vencedor da 80ª edição dos Óscares levou para casa quatro das principais estatuetas e deu aos realizadores e argumentistas Joel e Ethan Coen a recompensa por Este país não é para velhos.
A fita, que chega a Portugal apenas esta semana, venceu nas categorias de melhor filme, melhor realização, melhor argumento adaptado e ofereceu a Javier Bardem o prémio para melhor actor secundário pelo trabalho como um sociopata assassino. Os irmãos Coen discursaram à sua maneira, de forma descontraída, e arrancaram algumas gargalhadas da plateia.
A vitória de Daniel Day-Lewis confirmou as apostas na categoria de melhor actor e somou uma das conquistas para Haverá Sangue de Paul Thomas Anderson. A fita, que era uma das favoritas da noite, terminou apenas com dois Óscares: o de melhor actor e melhor fotografia. Este ainda não foi o ano do realizador de Magnólia.
No campo dos actores, as vitórias poderão ser entendidas como um gesto de maior abertura por parte da Academia visto que, nenhum dos premiados é americano.
O inglês Daniel Day-Lewis recebeu o prémio para melhor actor das mãos da rainha, Helen Mirren, e a francesa Marion Cotillard recebeu a estatueta para melhor actriz por La Vie en Rose, representando uma das poucas surpresas numa categoria que muitos apontavam como certa para Julie Christie.
Do lado dos actores secundários, para além do espanhol Javier Bardem, foi Tilda Swinton a subir ao palco para discursar. A britânica dedicou o prémio ao seu agente que disse ser igual à figura do homem dourado que tinha na mão.
Para Juno, tal como aconteceu no ano passado com Little Miss Sunshine, estava reservada a distinção para melhor argumento original. A ex-stripper e blogger Diablo Cody fez aquele que foi o agradecimento mais emocionado do serão não esquecendo de fazer referência “à sobre-humana Ellen Page” pelo seu desempenho no filme.
Ratatui foi, como todos esperavam, o melhor filme de animação e colocou Brad Bird a agradecer a “todos os sonhadores que apoiaram um rato que sonha”.
Da parte de Michael Moore não houve discurso aceso já que, na categoria de melhor documentário, foi Taxi to the dark side a vencer. Os responsáveis pelo filme sobre os métodos de interrogatório norte-americanos não perderam a oportunidade para criticar a actual administração do Estados Unidos mas não da forma efusiva a que o realizador de Sicko nos tinha habituado.
A conduzir a 80ª cerimónia dos prémios da Academia esteve um estável Jon Stewart que começou a abertura da festa com uma frase a respeito do final da greve dos argumentistas: “A luta acabou. Esta noite, são bem-vindos ao sexo de reconciliação”.
80 cerimónias depois foram entregues as 24 estatuetas e o Óscar honorário, num ano em que, a fechar o habitual vídeo in memoriam, esteve a imagem de Heath Ledger acompanhada pelo som dos aplausos de toda a plateia.
Os irmãos Coen fizeram a sua obra mais sangrenta sem perder o habitual humor negro e mantendo a inspiração do film noir. Este país não é para velhos é um conto sobre violência no seu mais genuíno estado. Uma viagem sincera por um Texas simultaneamente bizarro, frustrado e hipócrita onde, viver ou morrer são realidades dependentes de uma escolha banal. Cara ou coroa?
A paisagem é a de um Texas vazio, mudado, onde antes os xerifes escusavam de usar armas mas agora são assassinados dentro dos seus próprios gabinetes por psicopatas de sangue frio.
Um caçador em exercício da sua profissão encontra um amontoado de cadáveres com uma simpática quantidade de heroína a fazer-lhes companhia e uma mala recheada de notas e decide levá-la para casa na esperança de que ninguém note.
Os planos eram bonitos na teoria mas, na prática, há dois assassinos muito pouco amigáveis atrás da desejada maquia, determinados a não deixar que o cowboy Llewlyn (Josh Brolin) tenha descanso.
A premissa de Este país não é para velhos pode parecer simples mas em filme dos irmãos Coen que, por acréscimo, é baseado num livro de Cormac McCarthy (vencedor de um Pulitzer e escritor com predilecção pelo sinistro) nada é linear.
O filme é, mais do que uma espécie de western soturno à mistura com thriller sobre assassinos, um retrato sobre as violências do mundo e sobre os últimos redutos da luta pela justiça.
Anton Chigurh (Javier Bardem) é o símbolo para a primeira imagem. Um sociopata assassino com a calma de uma preguiça e o calculismo de um advogado. Chigurh é homem estranhíssimo que mata porque sim, escolhe as suas vítimas atirando a moeda ao ar e carrega consigo uma botija de gás que mata com tanta eficácia como arromba fechaduras. A personagem de Tommy Lee Jones surge em representação da segunda (a justiça). É um xerife em pré-reforma, meio apagado, sem grande esperança no bem do mundo mas que, ainda assim, vai à luta quando é necessário.
São estes dois homens em dois extremos diferentes que perseguem Llewelyn. Um para o matar, outro para o ajudar.
Depois há Carson Wells (Woody Harrelson), o outro assassino, mais benemérito do que Chigurh, igualmente sedento pelo dinheiro mas disposto a poupar a vida a Llewelyn.
No country for old men é o mais exímio exercício da dupla Joel e Ethan Coen. Reconhecidos por pular entre géneros (da comédia screwball ao film noir), os irmãos atingem em nesta fita um máximo de violência. É, sem dúvida, o seu filme mais sangrento mas não deixa de conter algumas passagens com o seu típico humor negro. Joel Coen admite, é muito negro e essa é a nossa característica distintiva. O livro também é bastante violento, bastante sangrento. O filme é, provavelmente, o mais violento que já fizemos. É, de facto. Mas é também o melhor.
Comecemos pela suprema exibição de Javier Bardem, que dificilmente se poderá chamar de secundária, com um sotaque irreconhecível, um penteado bizarro, uma expressão inabalável e uma total entrega. Já venceu o Globo de Ouro e muitos garantem que lhe deverá valer o Óscar para melhor actor secundário.
Vire-se o foco para o trabalho irrepreensível dos Coen, tanto de escrita como de realização. A técnica é a de uma câmara atenta ao detalhe, sem precisar de recorrer a artimanhas para ser perfeita. As imagens estão ao serviço da história que, ora é cortante, complexa, ora é entretenimento de colar o espectador à cadeira.
Não há o que falhe em Este país não é para velhos. O ambiente desenrola-se numa tensão que delicia e que faz querer mais mortes. No final, apetece aplaudir a mestria dos Coen, a fotografia de Roger Deakins, a banda sonora de Carter Burwell e a interpretação inacreditável de Bardem.
Acumula oito nomeações para os Óscares. Vencer nas principais, será a prova de que a Academia está aberta a novos olhares e de que, na verdade, os lobbies não são assim tão fortes. Ainda se premeiam os melhores.