Mulherengo, bilionário e génio. Combinação de características improvável não fosse o referente Tony Stark a.k.a. Homem de Ferro. Da BD para o cinema, a Marvel atreve-se naquele que é o primeiro filme verdadeiramente seu. Voos e explosões na porção certa, inimigo de luxo e dama em apuros nos moldes correctos. O motor para tudo: Tony Stark (ou Robert Downey Jr.). O metal não podia ter sido melhor forjado.
Estávamos em 1963 quando o lendário Stan Lee, em conjunto com o colega Larry Lieber e os artistas Don Heck e Jack Kirby, decidiu criar um super-herói à semelhança do homem comum. Não tinha havido nem interferências alienígenas, nem de criaturas sobrenaturais, nem mesmo de acidentes radioactivos, para que nascesse Iron Man. De certa forma, Tony Stark era o self-made man do mundo dos heróis.
Agora, décadas depois e numa altura em que as BDs viradas cinema estão num pico de sucesso, chega uma adaptação renovada e readaptada aos tempos modernos, onde Jon Favreau (realizador de Elf e Zhatura) não esquece as origens do herói.
O risco maior seria fazer de Iron Man um palco para efeitos especiais à la Transformers ou situações que, ao invés de potenciarem a personagem, a ridicularizariam como tantas vezes assistimos em O Quarteto Fantástico. Foi isso mesmo. Apenas um risco. O conjunto de factores extraordinários que envolvem a fita contribuiram para que ela seja o primeiro grande e elogiado blockbuster do Verão.
O nome não tocará na memória de muitos espectadores portugueses mas Tony Stark é um génio inventivo, bilionário herdeiro do maior fabricante de armas para o governo americano que, um belo dia, enquanto atravessava uma estrada afegã numa coluna militar, na companhia de soldados e do seu adorado copo de whisky, foi levado para as catacumbas do Médio Oriente e obrigado a reproduzir a sua mais potente arma para os maus da fita. O país usado nesta nova versão substitui o Vietname na primeira.
Em vez de seguir o plano, Stark aproveita os materiais para desenvolver um projecto para si próprio. É desta forma que nasce Iron Man ou, pelo menos, a sua armadura inicial. O episódio serve como uma espécie de epifania e aquele que antes era um homem sem escrúpulos, sem moral e com um fígado a caminhar para um estado pouco saudável, muda agora a sua visão do mundo e decide usar as suas tecnologias para – usamos orgulhosamente o cliché - praticar o bem.
O motor, a alma e a justificação do sucesso deste Iron Man tem de passar obrigatoriamente pelo nome de Robert Downey Jr. que aqui tem a tão necessária catapulta para a aceitação global. Já tinha encarrilado há alguns anos, depois das malfadadas incursões nas drogas e dos problemas com a lei, mas Homem de Ferro é a verdadeira oportunidade para que o seu talento nato não sofra de falta de convites.
Downey Jr. nnca exagera nas porções e é perfeito no papel de bom malandro. Ao seu lado tem também um consistente Obadiah Stane (Jeff Bridges), o homem racional que já estava na empresa bem antes de existir Tony Stark, e Pepper Potts (Gwyneth Paltrow), a fiel assistente muito bem sucedida na busca pela «prova de que Tony Stark tem um coração».
A primeira produção dos Estúdios Marvel recorda, assim, a máxima que David Maisel, o presidente da empresa, sempre insiste em relembrar. É que os seus filmes «são tanto sobre o homem como sobre o super-herói» e Iron Man é a prova de que esse princípio é a receita certa para o sucesso.