Alexandre Valente é um produtor com a cabeça bem assente na terra no que diz respeito à qualidade dos seus projectos enquanto obra cinematográfica. Ele sabe que tipo de filmes fazem dinheiro por terras lusas e é nisso que investe, mesmo se tal facto significar que o resultado vai ser...como dizer...trágico. Apesar de tudo, tem o mérito de, geralmente, não demonstrar qualquer problema em assumir tal opção.
Second Life é, para ele, uma excepção. Talvez por ter sido um projecto pessoal que Valente co-realizou e com um argumento da sua autoria, o distanciamento não lhe permite ver que, na prática, não há uma única escolha em Second Life que não tenha sido feita a pensar naquilo que supostamente agradará aos espectadores (a atirar para todo o tipo de público para ver se pega em algum). Na verdade, talvez essas escolhas possam funcionar como reverso da medalha e apenas levar às salas de cinema uma primeira leva de espectadores.
Até percebo que o lado voyeurista de muitos possa suscitar algum interesse na fita, mas dizer, com toda a honestidade, que Second Life é um bom filme, será, com certeza, uma afirmação muito pouco sincera.
Aqui ficam algumas entrevistas feitas por mim e pelo Luís Salvado aos envolvidos no projecto.
Esta semana no e-Cinema, trazemos a ressurreição de Sam Mendes para o espaço que tão bem sabe retratar: os subúrbios americanos. Incompreensivelmente deixado de fora das nomeações ao Óscares, Revolutionary Road apresenta-se como uma estreia imperdível para esta semana. Depois, Milk de Gus Van Sant pode bem dar a Sean Penn o seu segundo Óscar (se ele conseguir bater esta recente onda de simpatia e contençãomediáticas que atacaram Mickey Rourke). Por fim, um outro prisma sobre o Holocausto em O Rapaz do Pijama às Riscas. Fora de Circuito, a sugestão vai para um incontornável da animação e nos Memoráveis recordamos um western de peso ou, como diria o meu pai, "uma cowboyada à moda antiga".
Ora espreitem lá no e-Cinema desta semana.
Sou moça para me plantar à porta da Bertrand ou da Tema lá para meados do próximo mês (ainda que nos últimos tempos a Bertrand tenha conseguido ter a revista disponível mais cedo) só para conseguir dar um abracinho nesta Empire aqui em baixo.
Tão bonita que é!
A Pixar!
Paremos um minuto para uma breve reflexão. Recordam-se de algo que tenha saído dos Estúdios Pixar com fraca qualidade? Ou medíocre? Ou mesmo, vá lá, mediana?
A proeza é incrível mas aconteceu de facto. Nove longas-metragens irrepreensíveis com Toy Story a marcar uma profunda viragem na animação e, a partir daí, com quase todas as outras a introduzirem elementos novos e surpreendentes. Mais uma batelada de curtas-metragens (muitas servem de "treino" àqueles que vão ser os futuros grandes realizadores do estúdio) que seguem a mesma linha de exigência.
O presidente do Festival de Cinema de Veneza, Paolo Baratta, anunciou hoje que, a título excepcional, o Leão de Ouro de carreira deste ano distinguirá John Lasseter, mas também todos os realizadores que integram o visionário estúdio de cinema de animação.
Pois, que bela excepção esta. Pelo menos que haja alguém a reconhecer o mérito da Pixar para além do rótulo "melhor na categoria de animação".
Nota: E a décima longa-metragem já vem a caminho...
Se Woody Allen não fosse tão cheio de maneirismos talvez não gostássemos tanto dele. E se o seu cinema não tivesse tanto dele, de tal forma que empresta a voz aos actores para que digam palavras saídas de si, talvez não o sentíssemos tão sincero. Mas é precisamente por ter tantas nuances em si que Allen é um realizador irregular. Não que possamos dizer que vá até ao mau mas, por vezes, e por temporadas, anda no morno e não consegue alcançar o bom. Depois de Match Point sentimos isso. Como se um novo filme de Woody Allen (aqui refiro-me a Scoop e O Sonho de Cassandra) fosse apenas uma estreia para cumprir calendário. Animem-se os aficionados. Ele está de volta em forma com Vicky Cristina Barcelona.
O cenário deste agora viajado cineasta, longe da sua adorada Nova Iorque, é a nossa cidade vizinha, Barcelona. Duas amigas americanas, cujos papéis couberam à já habitual Scarlett Johansson e a Rebecca Hall, decidem trocar o Verão dos Estados Unidos pelo sol de Barcelona. Durante um jantar de férias, é-lhes feito um convite em nada inocente que as duas acabam por aceitar. Acompanham então Juan Antonio (Javier Bardem), um pintor divorciado, ainda apegado à tresloucada ex-mulher, na ronda para ver se lhe calham novas experiências.
Vicky Cristina Barcelona é, para além de uma soma de cenas hilariantes e improváveis (Penélope Cruz nunca se viu tão do lado cómico), um ensaio sem travões sobre os defeitos nas relações. O cenário é quente, as personagens são intrigantes e os diálogos são alucinantes. E é tudo isso que faz dele um regresso de Woody Allen ao que ele sabe fazer melhor: este humor destravado e pitoresco que afinal tem um lado para se levar muito a sério.
Vicky Cristina Barcelona é Allen a pegar na caneta e a dar de si o que de melhor pode oferecer. Se não acharem tanto quanto eu, garanto, pelo menos, uma boa dose de gargalhadas.
Depois de, no dia 22, ter recebido dez nomeações para os Óscares da Academia, «Quem Quer Ser Bilionário?», que chega às salas portuguesas já no dia 5 de Fevereiro, foi o vencedor dos prémios atribuídos pelo Sindicato dos Produtores americano.
Vejam a notícia completa no renovado canal de cinema do SAPO.
Nota: Parece que, afinal, Slumdog Millionaire não é apenas realizado por Danny Boyle e que este divide a direcção do filme com a cineasta indiana Loveleen Tandan. Sou só eu, ou tal informação passou completamente ao lado dos comuns dos mortais?
Foram 13 nomeações as reservadas para O Estranho Caso de Benjamin Button, de David Fincher. No habitual cenário, o presidente da Academia Sid Ganis e o também membro Forest Whitaker anunciaram há poucas horas os felizes contemplados com nomeações para os Óscares e, confirmaram muitas das expectativas criadas.
O Estranho Caso de Benjamin Button é uma obra ao gosto da Academia mas, na humilde opinião desta que vos escreve, o seu destino na noite de 22 de Fevereiro vai ser um de dois: ou limpa quase todos os prémios para que está nomeado, ou levará poucas ou nenhumas estatuetas. Apenas um palpite.
A concorrer para Melhor Filme, apenas uma carta fora do baralho: The Reader, de Stephen Daldry. Frost/Nixon, Slumdog Millionaire, Milk e Benjamin Button já eram nomeações prováveis. E curiosamente, este ano temos dobradinha nas nomeações para Melhor Filme e Melhor Realizador. Stephen Daldry, Ron Howard, Danny Boyle, Gus Van Sant e David Fincher têm o nome na lista para o prémio de Melhor Realização e vêem os seus filmes nos nomeados para Melhor Filme.
Kate Winslet volta a ser nomeada para Actriz Principal, tendo de concorrer com nomes como Meryl Streep e Angelina Jolie, mas, inesperadamente, recebe a nomeação por The Reader e não por Revolutionary Road, como seria de esperar. De resto, o filme de Sam Mendes talvez tenha sido, injustamente, a ausência mais notada, visto que apenas compete na categoria de Guarda-Roupa e vê Michael Shannon a ser nomeado para Melhor Actor Secundário.
Quanto a Heath Ledger, nada de novo (e vai levar o prémio, claro).
Depois, Wall-E lá tem a nomeação (e vai levar a estatueta, claro) na categoria de Melhor Longa-Metragem de Animação (como merecia estar entre os nomeados para Melhor Filme, oh como merecia!) e A Valsa com Bashir surge perdido apenas no meio dos concorrentes a Melhor Filme de Língua Estrangeira. Nada de surpreendente, portanto.
Note-se uma pequena agradável surpresa. Penélope Cruz foi nomeada para Melhor Actriz Secundária pelo seu papel tresloucado em Vicky Cristina Barcelona.
Agora, resta-nos esperar até ao próxima dia 22 de Fevereiro, onde imperarão o café e as emoções fortes. É que não há noite como a noite dos Óscares, meus caros. Não há.
Podem conferir todas as nomeações aqui.
Esta semana o e-Cinema chega abafado pelas nomeações aos Óscares (de que trataremos já a seguir) mas continua orgulhoso defendendo o seu título de primeiro magazine de cinema online.
Em destaque temos Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen, Frost/Nixon, de Ron Howard e Resistentes, de Edward Zwick. Fora de circuito sugerimos uma passagem pelo cinema alemão e nos memoráveis recordamos a inocente Amélie Poulain. Ora espreitem na página do e-Cinema.
Ainda Barack Obama não sonhava em se candidatar à presidência dos Estados Unidos e já a Sétima Arte abria caminho para que um negro fosse pela primeira vez o detentor do lugar na Casa Branca. Claro que não intencionalmente mas não deixa de valer a pena parar para pensar no papel peregrino que o cinema poderá ter tido no que diz respeito a cenários que nunca tinham tido referente real e que acabaram por se verificar fora do grande ecrã.
A reflexão é feita hoje num interessante artigo do NY Times sobre não só os papéis de presidentes negros que os filmes acolheram até hoje ( com referências a Morgan Freeman em Impacto Profundo, a James Earl Jones em The Man ou Dennis Haysbert em 24) mas também sobre o crescente protagonismo dos actores negros na história do cinema.
Boa leitura para antecipar o Inauguration Day, altura em que Obama tomará posse. Podem ler tudo aqui.
Com Rasganço (2001), a jovem cineasta Raquel Freire já tinha demonstrado o seu ponto de vista muito particular sobre o que é fazer cinema mas nada do que ali se viu preparou o espectador para o que estaria para chegar aos cinemas este ano com Veneno Cura.
Se é saudável que em Portugal haja cada vez mais realizadores ambiciosos, carregados de motivação e prontos a não vergar a sua visão a interesses que nada têm a ver com a qualidade artística da sua obra, também é um facto que, se esse factor não é usado com conta, peso e medida, o resultado pode ser algo como esta última fita de Raquel Freire. Veneno Cura é um filme para dentro, feito pela cineasta para ela própria, e de costas voltadas para o público. É que, por mais que as boas intenções e as ideias com potencial, possam estar na linha de partida, nada disso interessa se, à chegada, o produto não for mais do que uma afirmação de autor pretensiosa e sem a ambição de, para além disso, ser uma obra cinematográfica com pés e cabeça.
Veneno Cura é uma soma de fragmentos em que a autora deixa as suas reflexões sobre o amor, a morte, a perda e a sobrevivência às desgraças da vida. Diz Raquel Freire que fez este filme porque acredita no amor, mas nada em Veneno Cura nos diz que Freire tem alguma réstia de fé no que quer que seja, nem mesmo a fé em que o cinema português interesse ao público.
Atraiçoado pelas temáticas mais do que gastas (a prostituição, o suicídio, a tragédia da mãe solteira ou do amor não correspondido), pelos diálogos escritos com recurso aos lugares comuns em que a cineasta parecia não querer cair ou pela condução fragmentada da realizadora que faz com que o filme seja apenas uma soma de partes e não um todo coerente, Veneno Cura é mais uma prova de que o cinema português é feito de extremos. De um lado, os que tentam fazer dele apenas um negócio, do outro os que o querem tornar numa arte para nichos. O mérito reside antes nos que se chegam à frente para propor um meio-termo.
A gloriosa experiência de David Fincher em O Estranho Caso de Benjamin Button, Nicolau Breyner na realização e o regresso de Christophe Barratier. Outro Fincher para ver Fora de Circuito e, nos Memoráveis, recordar Gene Kelly à chuva. Ora espreitem no sítio habitual.
Aos 78 anos, Clint Eastwood não só continua em forma como está na melhor forma de sempre. Só este ano, assina a realização de A Troca e Gran Torino e protagoniza este último, naquele que muitos dizer ser provavelmente o seu último grande trabalho como actor. Em A Troca, Clint dirige, Clint impõe a sua visão clássica, Clint dá a Angelina Jolie o melhor papel que alguma vez a actriz fez. Seja pela inacreditável história (se não soubéssemos que era verídica não acreditaríamos), pela interpretação soberba da protagonista ou pela realização de encanto clássico que Eastwood sempre traz, A Troca é uma incontornável fita deste início de ano concorrido.
Numa rua da Los Angeles no final dos anos 20, invadimos a casa de Christine Collins, acompanhando por momentos a sua relação com o pequeno filho Walter. Tudo no cinzento de Clint Eastwood numa reconstituição de época impressionante. Mas estes são os escassos momentos em que Walter é uma personagem presente.
No dia seguinte, quando a mãe regressa a casa do trabalho, Walter tinha desaparecido.
A Troca é um agonizante percurso centrado na luta de uma mãe em busca do seu filho e, mais do que isso, no seu duelo com a polícia que lhe devolveu a criança errada. Ela afirma, eles desmentem, ela é a mãe frágil, eles são poderosa e corrupta autoridade.
Angelina Jolie faz um trabalho impressionante de mergulho no desespero que, mesmo que não lhe valha um Óscar, valerá quase decerto uma nomeação. Clint Eastwood, sempre a surpreender, dirige o filme com mão precisa, tal como habitualmente, fazendo uso do seu talento clássico sem precisar de recorrer a grandes artifícios para compor imagens inesquecíveis.
A Troca não é o melhor que Eastwood já dirigiu mas é uma das obras mais bem conseguidas deste actor/realizador que, cada vez mais, se revela um sábio na segunda função.