É altura, meus caros, de se levar a cabo a tarefa ingrata de reunir nessa malfadada coisa chamada lista o que de melhor se fez no cinema no ano que agora termina.
Tal como fizemos no ano passado, eu, o Luís Salvado e o Gonçalo Sá reunimos as nossas escolhas para o SAPO Cinema. Há os tops 10 dos três e várias categorias cujos vencedores foram escolhidos em conjunto. Podem ver tudo aqui.
Nota: Sim, a imagem ali em cima refere-se àquele que foi, para mim, o melhor filme de 2008.
...mas alguém se antecipou.
Ora, em Filadélfia, um espectador fez aquilo que muitos cinéfilos já tiveram vontade de fazer mas nunca concretizaram. Quando um pai e o seu filho faziam demasiado barulho durante a exibição de The Curious Case of Benjamin Button, um jovem de 29 anos, não olhou a meios para pôr fim ao incómodo e sacou de uma arma, alvejando o pai. O tiro aconteceu depois de James Joseph Cialella Jr. (é assim o nome do agressor) já ter avisado pai e filho com um arremesso de pipocas.
E agora, a parte mais divertida: obviamente que os restantes espectadores se escapuliram num ápice quando presenciaram o disparo mas James sentou-se calmamente, para acabar de fazer aquilo para que tinha pago bilhete.
Sim, Baz Luhrmann é um romântico incurável. E, sim, as suas incursões ultra-fantasiosas são um risco desmesurado perigosamente à beira de passar a barreira do credível. Mas, se o cinema já perdeu a vontade de ser um escape, uma passagem para o lado de lá, onde tudo é larger than life, então pode ter perdido parte da sua essência. Lurhmann volta à carga com Austrália e consegue a proeza de levar ao grande ecrã, nestes tempos de algum desencanto, imagens com o deslumbramento que só um grande clássico pode afirmar ter. É um risco, sim, mas se alguém o pode correr é Baz Luhrmann.
Depois de Romeu e Julieta, em que trouxe Shakespeare para os dias de hoje sem lhe matar a orige, e de Moulin Rouge, um musical de cores e festim de excentricidades construído com pinças, Baz Luhrmann quis aumentar o turismo na sua terra natal e fazer um épico avassalador down under, extraordinariamente romântico e com imagens dignas de um cinema clássico que quase parece já ter desaparecido.
O elenco é maioritariamente constituído por australianos, a rodagem foi totalmente feita por aquelas bandas, e a acção desenrola-se com o contexto australiano como pano de fundo. Mas Austrália podia ter-se passado noutro local porque o espírito de épico estaria lá a sair por todos os poros. É uma espécie de salada feita a meias entre África Minha e E Tudo o Vento Levou com O Feiticeiro de Oz a servir de tempero que está destinada a destinar-se intemporal.
Lady Sarah Ashley (Nicole Kidman) é uma aristocrata inglesa que parte rumo à Austrália e se vê obrigada a tomar conta do negócio de gado estabelecido pelo marido. Como missão tem a tarefa de fazer uma manada de gado atravessar as mais diversas intempéries e para isso terá de contar com uma mãozinha (e com o suor do corpo) de um condutor de gado, The Drover (Hugh Jackman).
Podia dizer-se que, à partida, esta seria a sinopse de Austrália mas, na verdade, as histórias dentro da história seriam suficientes para desdobrar o filme em mais fitas. Há a viagem que desemboca na aventura amorosa entre os dois protagonistas, aflora-se a questão das crianças aborígenes retiradas do seu meio, com o filho adoptivo de Sarah Ashley, Nullah (Brandon Walters) a dar-lhe forma, e ainda está presente o contexto histórico de uma II Guerra Mundial a intrometer-se onde não deve.
Tudo isto acompanhado de uma série de referências às imagens de filmes que ficaram na memória de todos e da estética tão própria de Luhrmann, que só ele poderia assinar, com panos de fundo grandiosos, enquadramentos de GRANDE cinema e imagens tão extravagantes quanto apetecíveis.
Austrália nunca poderia ser tão excêntrico ou desmesurado quanto Romeu e Julieta ou Moulin Rouge porque a própria narrativa não é tão dada a isso. Mas ainda que este seja um Baz Luhrmann um pouco mais refreado, o realizador transforma a fita num daqueles exemplos que, na sala de cinema, têm o condão de fazer o espectador sentir-se arrebatado, de volta ao esplendor que julgava já ter perdido há muito. Isto, é claro, se se for assistir a Austrália de coração aberto e sem preconceitos contra hipérboles visuais.
...e todos foram generosos no departamento de prendas mas, para o que interessa neste modesto espaço dedicado ao cinema, esta foi especial.
O autor é David Thomson, o mesmo de outra Bíblia cinematográfica de que já vos tinha falado aqui (está abaixo do Control). Este pode servir de companhia ao anterior livro e deixa 1000 entradas opinativas (e, ao que parece, muito espirituosas) sobre filmes de origem muito diversa.
Nas palavras do autor: "A Personal Introduction to 1,000 Films including masterpieces, oddities and guilty pleasures (with just a few disasters)."
Obrigada a quem de direito. Providências para sinceros agradecimentos serão tomadas nos próximos tempos.
Só para vos desejar um Natal daqueles e para vos deixar a segunda dose de e-Cinema.
Não concordo com uma linha do que escreve Peter Bradshaw na sua crítica a Austrália. Aliás, estou na outra ponta, de quem acha que o filme não é o melhor que Baz Lurhmann já fez mas que é GRANDE cinema de uma ponta à outra.
Apesar de tudo isso, e de achar que a maioria das ideias escritas pelo crítico do The Guardian são extremadas até não poder mais, ri-me que nem uma tontinha ao ler o seu texto. Ora espreitem lá para ver se mesmo que, tal como eu, sejam fãs do senhor Lurhmann, não ficam a rir que nem patinho felizes ao ler a crítica.
O texto em questão está aqui.
Aqui ficam as tabelas de estrelas referentes aos meses de Outubro e Novembro, cortesia do blog vizinho, Cinema Notebook. Foi difícil escolher o melhor filme do Clint mas acabei por deixar o Million Dollar Baby para trás e optar pelo Cartas de Iwo Jima.
Foi hoje lançado o novo canal de cinema do SAPO. Correndo o risco de não ter a imparcialidade necessária para o poder afirmar, digo-vos que tem potencial para ser "o" grande site sobre cinema em Portugal. Para irem conferindo, vão passando por lá.
Ou pelo menos acho que é. Chegou hoje ao SAPO o projecto que já por algumas vezes tinha mencionado aqui e que acabou por demorar mais tempo do que se previa a ganhar vida.
Chama-se e-Cinema e é um magazine em vídeo, disponibilizado online no SAPO e no novo SAPO Cinema (que deverá ser lançado a qualquer momento e promete ser a nova cara dos sites sobre cinema em Portugal), e tem o objectivo primordial de simplesmente oferecer sugestões cinematográficas para uma semana a quem as quiser aceitar. Há estreias, há sugestões para uma experiência fora do circuito comercial e ainda há espaço para recordar uma cena memorável. Todas as semanas. Podem ver o primeiro aqui em baixo. Espero que gostem. Eu e o Gonçalo gostamos muito de o poder finalmente trazer a público.
Homem não entra aqui. Esta podia bem ser a tagline de Mulheres!, o filme de Diane English que recupera a fita realizada por George Cukor em 1939. Típicas mulheres de Manhattan, ricas, independentes e muito fashion que não dispensam uma cuidada sessão de manicure nem um competente corte de cabelo são as protagonistas de um filme onde o universo feminino é retratado ao pormeno. Pena que fique reduzido a uma mão cheia de dramas e futilidades.
Na fita de 1939 com o mesmo título eram Norma Shearer e Joan Crawford quem interpretava os papéis de uma abastada esposa e mãe e de uma manipuladora empregada de perfumaria. O cenário mudou, a perfumaria surgiu agora modernizada, a história foi trazida para os tempos modernos e as protagonistas passaram a ser Meg Ryan e Eva Mendes. A primeira veste a pele de Mary Haines, uma esposa consumida pelo casamento em detrimento das suas apostas pessoais que descobre, durante uma visita ao salão de beleza, a traição do marido. O alvo de desejo de Stephen Haines é Crystall Allen, uma lojista de balcão que aconselha perfumes e manipula homens casados.
Mas o elenco central não se fica por aqui e vai buscar mais algumas pérolas do universo feminino. Annette Bening, – o melhor do filme, diga-se em boa verdade – Debra Messing e a senhora Will Smith, Jada Pinket, são as peças que compõem o círculo de amigas pronto para amparar Mary no momento em que a bigorna lhe cai em cima. E a fazer uma perninha ainda se juntam Bette Midler e Candice Bergen.
Apesar de uma ou outra cena com um realismo sincero e de uma ou outra passagem com humor inspirado, geralmente com Annette Bening pelo meio, Mulheres! é apenas um espectáculo de glamour comercial que atravessa os corredores de um centro comercial e que faz daquelas mulheres em questão personagens quadradas, planas e sem muito mais para mostrar do que unhas bonitas e cabelo arranjado.
São 49 e abrangem filmes que vão desde Australia (a propósito, tive oportunidade de o ver esta manhã e gostei muito)a High School Musical 3. Falo da lista de canções candidatas às nomeações para os Óscares. Por mais surpreendente que possa parecer, é mesmo High School Musical 3 quem vai à frente na lista com um total de 11 nomeações. Vamos a ver quem se sai bem.
Podem ver quais são todos os candidatos a candidato aqui.
Já tinhamos visto a imagem no trailer de Up mas agora podemos provar um pouco mais de uma cena do novo filme da Pixar. Aqui fica este pedaço.