Um bocadinho de Del Toro (O Labirinto do Fauno) e um cheirinho de Amenábar (Os Outros) reunidos num filme que teria deixado Alfred Hitchcock orgulhoso...Tudo misturado por um realizador estreante no cinema (Juan Antonio Bayona), espanhol, com um cinema muito mais maduro do que esperaria de um quase newbie e com argumento de Sergio G. Sánchez.
Um farol, nevoeiro, fantasmas, uma casa gigante (como se impõe), uma grande (GRANDE) interpretação e muito mais para oferecer para além do puro suspense em que O Orfanato nos mantém durante as suas duas horas de duração.
Já este ano o cinema espanhol nos tinha deixado meio boquiabertos com o excelente e impróprio para cardíacos REC mas, eis que, sem aviso nem expectativas criadas, os vizinhos aqui do lado voltam a mostrar que são exímios neste tipo de produções.
A história abre com um fantástico genérico em que pequenas mãos de crianças vão rasgando papel de parede (sinistro por si só) e segue anunciando que a produção tem o apadrinhamento registado de Guillermo Del Toro. Depois, entramos num mundo de coisas por dizer e histórias por contar que assombram o presente de uma casa.
Belén Rueda (fantástica em Mar Adentro mas que aqui tem um desempenho ainda mais sublime e com maior protagonismo) veste o pesado papel de Laura, uma filha adoptada e uma mãe de adopção que tem como meta de vida regressar ao orfanato que a criou para tomar conta de algumas crianças menos afortunadas. Consigo leva o filho e o marido, nunca adivinhando que o seu próprio pequeno vai ser roubado de si depois da mudança.
A casa tem, desde início, várias presenças estranhas, sombras que nunca a abandonaram, e vai, à medida que o argumento se fecha em acontecimentos inexplicáveis, ficando cada vez mais possessiva, mais protagonista. Quase mais do que os próprios actores - em grande parte por mérito de Bayona que filma a casa como um sábio e nunca nos deixa esquecer as antigas, às vezes invisíveis presenças, que sabemos deambularem por ali.
Em O Orfanato há um forte suporte narrativo, para além de uma pausada, muito bem estudada câmara, que nos deixa saborear a casa, estudar os seus recantos, perceber a sua luz e a sua escuridão, mas, ao mesmo tempo, provoca a tensão ideal para que não percebamos bem os passos das crianças. Há a força da história de uma família muito invulgar, afrontada por fardos com poder para dobrar a coluna ao meio bem com o peso que tem a história de uma mãe a lidar com a perda da forma que pode.
Está garantida uma sessão em que os braços da cadeira podem não parecer suficientemente fortes para conter a força das mãos do espectador. Estão assegurados uns bons saltos de susto. Está confirmado um dos filmes do ano até à data.
E é muito curioso perceber que, de facto, parece haver um estranho mecanismo psicológico que provoca nos adultos um inexplicável medo desses mistérios chamados crianças. Mesmo o tema "adopção" é simbólico para esse desconhecimento em relação aos mais pequenos tantas vezes mostrado no cinema e aqui com mais um retrato intrigante que promete durar na memória.
Este Bond (Daniel Craig), aquele de que todos desconfiavam e que todos proclamavam como o assassino das adaptações cinematográficas baseadas na saga criada por Ian Fleming, parece continuar em forma. Se Quantum of Solace for dois terços do que Casino Royale foi, dou-me por satisfeita. E se for mais, melhor.
Deixo-vos o primeiro teaser para Quantum of Solace.
Estávamos em 1986 quando David Cronenberg realizou a sua perturbadora e pioneira experiência cinematográfica, A Mosca. Vinte anos passados e o cineasta parte para a concretização de mais uma ideia peregrina, do tipo das que prometem quebrar barreiras ou, pelo menos, ser alvo de falatório pelo mundo fora.
Façamos um esforço de criatividade e imaginemos A Mosca em formato ópera...
A tarefa é árdua mas, a haver alguém com capacidade para que o projecto seja bem sucedido, será, sem dúvida, o mestre do gruesome factor esteticamente poético. Ainda para mais, a dar-lhe uma mãozinha no departamento musical vai estar o amigo e compositor da banda sonora do filme, Howard Shore.
Isto merece acompanhamento. Ora recordem lá...
Não que tenha qualquer ódio especial aos nossos vizinhos do lado de lá do oceano mas o título do post deve-se apenas ao facto de hoje estrear Wall.e nas salas dos senhores norte-americanos. A dor de cotovelo está a dar-me cabo da concentração.
Embora, por cá, tenhamos de esperar até Agosto para ter o produto final nos nossos cinemas, aproveito para fazer uma lista das primeiras impressões que vários jornais ou sites foram deixando sobre o mais recente filme da Pixar.
Claro que já todos já adivinhávamos a excelência de Wall.e mas estas críticas aqui em baixo deixam entender que talvez seja um dos melhores espécimes da Pixar (sendo que todos são fantásticos). Ora espreitem lá o que se diz pelos Estados Unidos.
Aproveitando a embalagem da animação, nada mais ideal do que este espaço para vos deixar o trailer de Bolt, o próximo filme com marca registada Disney. Um cão, protagonista de uma série de televisão metida a heróica, acredita que os seus dons se estendem para lá do pequeno ecrã. Mas afinal não...Promete.
Peter Greenaway, britânico de 66 anos, homem vindo das artes plásticas que gosta de transpor esses ensinamentos artísticos para os seus filmes, vai fazer um filme sobre Jesus. Isso mesmo.
O mais curioso é que a decisão para avançar com o projecto foi aparentemente tomada devido a uma pergunta feita pela filha de Greenaway de apenas sete anos. A pequena terá perguntado ao cineasta porque é que Jesus tinha tido dois pais. Ele diz da forma mais descontraída: "Fiquei pensativo, sentei-me e escrevi o guião". Nada mais simples do que escrever um argumento...
Greenaway já assegurou, no entanto, que a filha só poderá ver o filme depois de atingir a maioridade porque a fita, essa, será destinada aos mais crescidos. Com uma dureza semelhante à que Roman Polanski apresentou em O Bebé de Rosemary mas, ao contrário deste último, centrando-se no senhor lá de cima (Deus) e não no cavalheiro de temperatura elevada (o Diabo), é o que diz o realizador.
Claro que, de imediato, conseguimos antever um magnífico quadro de uma Última Ceia em movimento ou um mártir na cruz saído de uma obra de arte exposta no mais prestigiado dos museus. Mas, como tudo em Greenaway, não podemos deixar de perguntar se o fascínio visual chega para fazer esquecer os habituais momentos de tédio que ele tanto gosta de nos oferecer. Fui mázinha? Pois fui.
Nota de rodapé: Imagem no topo do post não parte de um acto ingénuo. Conseguirá Greenaway bater o filme de onde aquele frame foi tirado? Se calhar não...
Numa semana em que surpreendentemente só se assinalam duas estreias (será que o Euro tem alguma influência neste agendamento?), não tive ainda oportunidade de pôr os olhos naquela que me parece a mais relevante. Embora os ecos que já me chegaram não me tenham deixado com a vontade que me subia pela pele há uns tempos atrás, não deixo de ter alguma curiosidade em ver Speed Racer.
Enquanto não o faço, deixo-vos algumas notas sobre a outra estreia da semana, Death Defying Acts.
A personagem era um ilusionista ímpar. Os truques com a camisa-de-forças, o tanque mortífero de água ou as correntes inquebráveis ainda fazem corar David Copperfield e seus parentes. O showman do filme é Harry Houdini, mágico-extraordinaire com o dom de se ver livre de qualquer aprisionamento humanamente impossível de quebrar e figura mítica nas memórias colectivas. Mas o filme de Gillian Armstrong não faz jus ao nome do protagonista. Em vez de magia e transgressões impossíveis, ficamos com uma história linear e algumas personagens impotentes…tal como aconteceria a um imitador de Houdini sem talento para se libertar das correntes.
O actor Tony Curtis já tinha ficado trancado pelo cadeado do maior mágico de sempre no filme de 1953 com George Marshall na realização. Desde a morte do húngaro Harry Houdini (à nascença os pais tinham-no registado como Ehrich Weiss) que as representações dos misticismos da personagem foram chovendo sob a forma de documentários, chegando mesmo a surgir na televisão, em 1998, um telefilme biográfico sobre o homem que nunca revelava os segredos dos seus truques.
Embora, de quando em vez, apareça uma voz dissonante pondo em causa os verdadeiros motivos da sua morte, o episódio oficial registado conta que Houdini morreu vítima dos seus próprios talentos. Costumava dizer bem alto que aguentaria um murro no estômago de qualquer homem sem saber que, um dia, um soco inesperado resultaria na sua morte.
Nesta nova toma no cinema, a biografia de Harry Houdini (Guy Pearce) não é propriamente o assunto em discussão. O filme de Gillian Armstrong, realizadora de uma das adaptações de Mulherzinhas ou de Oscar e Lucinda, quer mostrar o Houdini frágil e perturbado pela sua relação com a falecida mãe e pela permanente desconfiança em relação aos que o rodeiam e não tanto um Houdini biográfico.
Ao público é oferecida uma deambulação no papel de espectador que assiste às maquinarias de um ilusionista perturbado pela morte da mãe e enfeitiçado por uma pseudo-vidente escocesa (Catherine Zeta-Jones) e pela sua filha mais crescida do que a idade faz adivinhar (Saoirse Ronan).
A figura, é claro, dá pano para mangas mas o filme desenrola-se de forma pouco arrebatadora e sem grande aventuras no campo da originalidade. De alguém que terá sido tão complexo e com tanto para desfolhar, sobra, nesta versão da cineasta australiana, um mágico atarantado numa montanha-russa provocada por uma paixoneta de fascínio obssessivo.
Tanto Guy Pearce como Timothy Spall - este último no papel de agente do mágico (se é que o conceito existiria na altura) - como a jovem promessa Saoirse Ronan, que já tínhamos visto roubar o protagonismo a Keira Knightley em Expiação, são competentes nos seus papéis mas não têm espaço para deslumbrar numa fita parca em ideias e com raras saídas criativas. Catherine Zeta-Jones é quem menos convence numa personagem praticamente imutável, com pouco mais interesse no final da película do que nos é dado a conhecer pela altura do genérico inicial.
Se a magia foi o que destruiu o artista, também estes truques usados em Houdini – O Último Grande Mágico são mais prejudiciais à saúde do filme do que libertadores. Talvez falte a este Houdini descortinar um ou outro segredo para se libertar de vez das correntes e dos cadeados.
Apesar das desavenças com a sua senhora, aparentemente ele está de volta em força. O trailer de RocknRolla foi hoje disponibilizado na Empire e eu, pois está claro, puxo-o para este humilde estaminé.
Ora dêem uma vista de olhos aqui.
Há duas questões pertinentes. Estará o realizador de volta à forma de Lock, Stock and Two Smoking Barrels e de Snatch? Haverá realmente algo de novo a acrescentar a esta sua estética tão própria e a estas suas histórias de bandidos atrás do dinheiro e dinheiro a fugir dos bandidos?
Vamos ao que interessa. Anthony Hopkins vai ser Rei Lear na nova adaptação ao grande ecrã de uma das aclamadas tragédias Shakesperianas.
Posto isto, vamos à reflexão. Certamente concordarão comigo quando digo que me parecem óbvias as razões da escolha porque Hopkins seja talvez o actor com o encaixe mais perfeito para o papel. Não conseguem já imaginá-lo junto às ingratas e ambiciosas filhas?
Nos papéis de rebentos estarão Gwyneth Paltrow, Naomi Watts e Keira Knightley e a realizar o filme vai estar Joshua Michael Stern que, embora já tenha trabalhado nos guiões de alguns episódios de Chicago Hope ou Law and Order, já disse que não se vai atrever a mexer no texto. Eu cá diria ainda bem.
Curioso é que Anthony Hopkins vai voltar a desempenhar o mesmo papel que lhe coube há 21 anos na produção de David Hare para o National Theatre de Londres.
Annie Leibovitz, a única, fez uma sessão fotográfica para a Vogue com Nicole Kidman e Hugh Jackman nos cenários do próximo filme de Baz Luhrmann, Australia, que, a julgar pelo trailer parece ser uma espécie de E Tudo o Vento Levou num simpático encontro com África Minha.
Nem me parece sensato dizer que as fotos são excepcionais. Há alguma ocasião em que tal não aconteça?
Espreitem aqui.
O ComingSoon.net falou com o realizador da aparente maravilha Pixariana, Wall.e, e com dois dos actores responsáveis por algumas das poucas vozes que entram no filme.
As conversas são um bom pretexto para saber mais algumas curiosidades sobre a fita mas também para descobrir novas imagens que, pelo menos esta que vos escreve, ainda não tinha encontrado por aí à solta.
Podem ver tudo aqui.
Falta uma semana para a estreia de Kung Fu Panda e, embora as primeiras imagens não me tivessem deixado por aí além de entusiasmada, os últimos relatos vindo do outro lado do oceano deixam antever algo bem mais interessante do que o trailer parece mostrar.
Não sou adepta de versões dobradas (em qualquer circunstância) mas a verdade é que as versões portuguesas dos filmes de animação são cada vez mais cuidadas e reúnem elencos vocais cada vez mais competentes.
Em Kung Fu Panda, Joaquim de Almeida é quem faz a voz do vilão Tai Lung. Estive à conversa com ele sobre o filme, sobre a sua apetência para vilões e sobre a sua participação no remake televisivo de O Santo. Deixo-vos a conversa aqui em baixo.
A Maior Flor do Mundo é o título de um conto infantil da autoria de José Saramago com ilustrações de João Caetano. O livro foi publicado em 2001 e teve direito às atenções do realizador Juan Pablo Etcheverryl, que decidiu convertê-lo num filme de animação.
A Maior Flor do Mundo (filme) está em exibição na exposição "A Consistência dos Sonhos", dedicada a José Saramago, que veste por estes dias o Palácio da Ajuda.
Mas a notícia é outra. É que A Maior Flor do Mundo foi o único filme de animação distinguido no Festival de Curtas-Metragens de Chicago. Só porque me pareceu relevante dizê-lo.
Aqui fica a curta em questão.