Cá vai a sempre simpática tabela de estreias, cortesia da bela organização do caro Knoxville. Este mês é preciso dar as boas-vindas a um novo membro. Bem-vindo a este agrupamento de «pessoas-que-não-largam-os-filmes-mas-que-com-jeitinho-até-conseguem-ter-vida-social», Alvy (ou Bruno)!
Em matéria de realizador e porque sou uma nostálgica inveterada, não podia deixar de fazer a vénia a Back to the future.
Para quem possa estar curioso (mesmo não sendo a minha opinião algo de muito interessante) tinha também dado as seguintes estrelas a outras estreias do mês que acabaram por não poder entrar:
Os videojogos e o cinema. A relação é complexa. Do jogo, onde tudo é geralmente mais cru e linear, para o cinema, onde tem de se limar a história e torná-la mais real. Hitman é mais uma adaptação do jogo que pôs tantos a matar e que tantos prémios ganhou. O problema é que este Agente 47 parece não transpor a barreira que nos faz distinguir uma personagem de um boneco comandado por botões.
O assassino não tem nome. Apenas um número para o diferenciar: 47. Ele foi escolhido para uma experiência onde crianças são treinadas para crescerem matadores, sem perguntas nem justificações. Apenas a perfeição na execução. Timothy Olyphant dá corpo ao agente saído de um franchise de sucesso no mundo dos videojogos. Trabalha para A Agência, organismo secreto que cria estes ditos assassinos e lhes encomenda trabalhos.
Depois da sua mais recente tarefa, o agente vê-se envolvido numa tramóia política que o obriga a fugir da Interpol, dos militares russos e de todo o tipo de autoridades que têm alguma coisa a dizer. Pelo meio dos que o procuram, surge-nos um Robert Knepper (o T-Bag de Prison Break) com um sotaque russo americanizado. É que ele, o nosso assassino contratado, nunca falha e, desta feita, o seu alvo aparece misteriosamente vivo.
Sempre a acompanhar todos os seus movimentos está Mike Whittier (Dougray Scott), um polícia obcecado em prender aquele que chama de «o seu rapaz». Claro que, em filme de tiros e porrada que tem justamente essa designação, não poderia faltar uma dama a precisar de ajuda. Ela é Nika (Olga Kurylenko), uma prostituta usada pelos senhores da política que vai amaciar a dureza de 47.
Hitman falha no aspecto que é simultaneamente o seu único forte. Transmite um verdadeiro aspecto de videojogo, com passagens em que o espectador poderá pontualmente achar que, se sacar de um comando, poderá controlar o protagonista. Visualmente, o aspecto resulta a seu favor. No entanto, esse método em piloto automático gera, consequentemente, uma enorme desatenção e pouca profundidade do lado dos personagens.
Hitman é, assim, uma fiel colagem ao mundo virtual que não dá o salto necessário para ser mais do que isso. Como filme é uma sequência de acção ininterrupta com aspectos psicológicos abordados pela rama e que não responde à pergunta que todos queriam esclarecer: Quem é o agente com um número em vez de um nome?
Folhos nos vestidos, animais ternurentos, balões nas mangas e bruxas más. Tudo o que costuma tomar forma como desenho animado chega ao cenário mais improvável de todos: Times Square em Nova Iorque. A Disney acreditou que podia reinventar o conto de fadas e torná-lo contemporâneo. Uma história de encantar é mais do que um filme para toda a família, é uma luz de esperança a anunciar com a inscrição «ainda existem finais felizes e podemos render-nos a eles».
É um encontro tão improvável quanto imaginativo. Um conto de fadas em animação clássica, com princesas, príncipes, bruxas más, maçãs envenenadas e animais que falam. Uma comédia romântica com o cinismo dos dias de hoje na dureza da cidade que nunca dorme.
É esta a escolha da Disney para o filme de Natal deste ano. Nada de 3D, nada de ironias ou críticas à actualidade (só mesmo ao estado geral de cepticismo). Apenas uma história para toda a família onde os mais pequenos vão querer entrar e que vai levar os menos jovens de volta à altura em que ainda acreditavam na frase «e viveram felizes para sempre». Mais do que isso, Enchanted é um gigantesco tributo à história que Walt Disney começou a desenhar.
Acabado de entrar na sala de cinema, o espectador pode sentir-se compelido a pensar que afinal só ali foi para acompanhar os filhos ou os sobrinhos mas 15 minutos começa a ser fácil perceber que também o mais velho se vai entregar àquela narrativa intemporal a que está a assistir no ecrã. A explicação aí vem.
Num cenário a fazer lembrar a casa de Cinderela e dos seus ajudantes de quatro patas, Giselle (Amy Adams) - a nossa dama ainda não transformada em princesa- canta com voz aguçada mas igualmente afinada. Chama pelo príncipe encantado que ainda não chegou. Tudo isto num desenho da mais tradicional animação a que a Disney nos habituou. O príncipe chega, a carruagem transporta a dama até ao palácio, agora já envergando os trajes dignos de uma princesa e, naturalmente, a bruxa má que não quer ver uma jovem da populaça tomar o seu lugar intromete-se no normal decorrer das coisas.
Qual é a solução da maléfica Rainha Narissa? Enviar a ameaça ao seu poder para aquele que diz ser «o local mais terrível e distante de todos». A notícia é que, todos nós vivemos no dito lugar: o mundo real, mais particularmente, Times Square em Nova Iorque.
Daí em diante, o caminho é o da perdida e ingénua Giselle num mundo cinzento onde conhece o pai solteiro, profissional da lei, Robert (Patrick Dempsey). A segui-la anda Edward (James Marsden), o príncipe encantado saído do mundo de fantasia para levar a sua espada e as suas mangas de balão até aos engarrafamentos na Big Apple. E como perseguição que se preze tem de ter muitos participantes, atrás ainda surgem a ruim Rainha e o seu servo devoto.
O resultado é uma viagem pela nostalgia dos filmes de animação com a história da maçã envenenada, os peixes da pequena sereia, piscadelas de olho aos aficcionados do universo como o nome de uma firma de advogados (Churchill, Harline and Smith) que corresponde aos nomes de três compositores da banda sonora para Branca de Neve e os sete anões.
A cantoria e inocência de Giselle são impecavelmente interpretadas pela refrescante Amy Adams que garante ter futuro assegurado como actriz polivalente. O retrato da população nova-iorquina chega pelos talentos de Patrick Dempsey, o cínico e céptico virado romântico. Susan Sarandon mostra que , por esta altura, pode dar-se ao luxo de aceitar os trabalhos que lhe dão gozo e, com isso, trazer momentos deliciosos a um filme já por si encantador.
Como o próprio realizador Kevin Lima insiste em dizer, Uma história de encantar é um filme que reúne o melhor de dois mundos e que, com alguma sorte, vai pôr de novo na moda a ideia de que «ainda há hapilly ever afters».
É agora altura de vos abrir uma janelita para o que se vai passar em Enchanted. Estreia já amanhã, altura em que vos deixarei aqui também um artigo mas, por agora, deixo-vos a reportagem que fiz no habitual estaminé com direito a entrevistas ao Kevin Lima (o realizador) e a Amy Adams (a princesa). Ele é fantástico a explicar as geekices Disney que quis enfiar no filme. Ela ainda tem o ar modesto de quem é protagonista pela primeira vez.
Ora toca a entrar no espírito encantado da Disney.
Já se viu que esta foi semana de máfia para o Elite. Depois de American Gangster, venho falar-vos de Eastern Promises, o novo de Cronenberg. Aqui a máfia é russa e vive em Londres.
Estreia já esta quinta e deve ser servido em noite fria com disposição durona. Em Eastern Promises Anna (Naomi Watts) é uma parteira que vê uma jovem russa morrer na sua maca. Fica-lhe com o diário e percebe que ela estava envolvida num submundo onde quem manda não perdoa. A sua investigação em busca de justiça vai levá-la até ao caminho de Nikolai (um espantoso e envelhecido Viggo Mortensen), motorista e capataz dos mafiosos russos.
O filme de David Cronenberg é, como sempre, servido da habitual forma crua e sem meios termos (e assim é que deve ser). Um retrato muito interessante de mafiosos presos à tradição familiar e aos costumes que lhes dão estatuto. Belas interpretações dos protagonistas e descrições visualmente muito corrosivas (traduza-se por muito boas).
Se, no próximo fim-de-semana, vos apetecer virar para gangsters/mafiosos optem por este. Não vão sair desiludidos. Trailer aqui em baixo.
A Bússola Dourada chega dentro de duas semanas. O hype de Casino Royale ainda há pouco assentou e já Bond 22 está em marcha. Daniel Craig falou ao The Times sobre o que mudou desde que se tornou no agente que todos queriam ser. O actor prova que a maldição Bond não o assombrou e conta onde o vamos poder ver nos próximos tempos.
Nunca fui grande adepta de Denzel Washington. Porque o acho eficaz num determinado registo de onde raramente consegue sair. Também nunca fui particular fã de Russel Crowe. Porque consegue encaixar nos papéis competentemente mas parece não conseguir convencer. Sempre me pareceu ficar racionalmente preso ao boneco que sabe que tem de fazer e, talvez por isso, quase nunca me pareça credível a entrega ao personagem. Mas isto não invalida o facto de achar que são dois consistentes profissionais, competentes e que acabam por ver (justamente) recompensada a sua solidez. Quanto a Ridley Scott, custou-me vê-lo perder-se nos últimos Kingdom of Heaven e A Good Year mas a memória que tenho dos tempos de Alien, Blade Runner ou Gladiador consegue sempre prevalecer.
Serve este prólogo de aquecimento para as ideias com que fiquei de American Gangster.
Ora acontece que, desta vez, Denzel Washington conseguiu encher-me as medidas. Gosto de personagens cruas, que não avisam «agora-é-que-te-vou-enfiar-uma-bala-na-testa» e também me agrada que pareçam sempre ter feito aquilo na vida. Ao contrário de algumas opiniões que já ouvi por aí, este Frank Lucas, mafioso negro que revolucionou as ruas do Harlem, nas mãos de Denzel não me parece nada forçado.
American Gangster acompanha a história deste discípulo tornado barão da droga numa cidade onde, de acordo com o retrato, a maior parte das autoridades é corrupta e onde a heroína ainda ameaça ser uma moda sem consequências. É também uma imagem histórica de um país enfraquecido e envergonhado pelo conflito no Vietname que não consegue acordar depois do regresso.
E isto de que vos falei é o que me parece mais aliciante em American Gangster: a personagem de Denzel Washington e a reconstituição histórica com direito à habitual banda sonora cool.
Depois, há Russe Crowe, num personagem desinteressante em jeito «polícia-bonzinho-e-sempre-honesto-mas-cheio-de-conflitos-pessoais-analisados-só-porque-sim». Depois há a típica história do dono da máfia que cresceu a pulso e que todos passam a temer (nada de novo). Depois há o fim demasiado esticado que terminaria melhor se não tivesse um incrível necessidade de encerramento conclusivo.
É, sem dúvida, um Ridley Scott em época de reaquecimento mas que ainda não chega para encher as medidas a quem é fã do que de melhor ele já fez.
Mais do que tradição, já se tornaram um culto as exibições contínuas e quase ininterruptas que a 2: prepara em cada final de temporada de 24.
Em quase todas sempre consegui adiantar-me à maratona e o fim-de-semana sequencial acabava por receber apenas umas espreitadelas para recordar alguns dos momentos mais Bauerianos. Desta vez, cheguei ao sexto episódio da também sexta temporada de 24 e descontinuei o habitual visionamento compulsivo. Sim, 24 continua a ser brilhante e, sem dúvida, o vício televisivo mais terrível que alguém alguma vez criou, mas eu sentia que precisava de algo diferente para continuar agarrada como o fiz com particular exaustão nas três primeiras temporadas e na quinta.
Hoje, e porque estou a trabalhar a partir de casa, vou tentar dar uma segunda oportunidade à série que já me fez passar mais de sete horas seguidas em frente a um televisor. Maratona é uma ideia que agrada a todos os que, como eu, não têm a chamada paciência para esperar por horários mutantes em dias facilmente alteráveis (se bem que temos de fazer a vénia ao segundo canal do serviço público pelo cumprimento dos ditos).
Não ficarei para a noite mas, para quem possa ou queira ficar, Jack Bauer estará disponível para mais uns bons "son of a bitch". A partir das 11h40.
Como fã assumida de Christopher Nolan e igualmente admiradora acérrima de Christian Bale, gosto de acompanhar o que se vai passando com The Dark Knight. Hoje encontrei este jeitoso vídeo.
Podem dar uma espreitadela no que se anda a passar pelas filmagens e ouvir o realizador a explicar o porquê de ter escolhido o IMAX. "Just larger than life".
Daqui a uma semanita estreia Enchanted, a aposta da Disney para este Natal. Depois de muitos clássicos, animação em 3D e um período de um certo vazio, a empresa que põe nostálgico o mais racional, volta com um conceito inspiradíssimo (igualmente arriscado) e que, senhoras e senhores, resulta que é uma maravilha.
Pretendo com este post preparar-vos o caminho e aguçar-vos o gosto para Enchanted. E já que Uma história de encantar (é assim em português), é, no fundo, um gigantesco tributo ao universo Disney, nada melhor do que recordar algumas cenas para vos fazer sentir como um emigrante português na França a ver um espectáculo da Mariza.
Nota de rodapé: Nos próximos dias, vamos ter vídeo com entrevistas e ideias sobre o filme.