«No escurinho do cinema chupando drops de anis»...já dizia a canção de Rita Lee que a vereadora da cultura da Câmara Municipal da capital quis recuperar ontem na abertura do Indie Lisboa. Porque o Indie tem ministros e vereadores mas, mais crucial, muitos e muitos espectadores. Sala esgotada no São Jorge para receber Wong Kar Wai.
Sala cheia, apresentação que deixou mesmo os altos cargos do Estado no espírito do festival e a promessa de que, até 4 de Maio, São Jorge, Fórum Lisboa, Cinema Londres e Maria Matos não vão ter descanso. Porque o Indie cresce de ano para ano, o ministro da Cultura aproveitou para desafiar os directores a se lançarem na distribuição do cinema independente em Portugal. Para uma plateia repleta, disse José António Pinto Ribeiro, «a exibição de uma oferta independente é fundamental».
Mesmo antes da noite de abertura, já o festival se sentia pela cidade. Quem passar pela Avenida de Roma nos próximos dias vai perceber que o Indie anda à solta por Lisboa. Na tarde de ontem, a entrada da bilheteira central, a do Fórum Lisboa, já acumulava uma considerável fila indiana. Alguns ainda perguntavam se sobrava um bilhete para a sessão de abertura, outros agendavam todo o festival, levando a paciência de quem estava a seguir aos píncaros. Não importa. No Indie está tudo bem.
Com o sol posto, o cenário não se alteraria, mesmo com a mudança de local. Na Avenida da Liberdade, à porta do São Jorge, juntavam-se os que, ou por sorte, ou porque eram convidados, tinham conseguido um ingresso para ver My Blueberry Nights de Wong Kar Wai, com Jude Law e Norah Jones nos papéis principais.
Antes do filme, tempo para cartas de intenções. A má notícia: «A Norah Jones, infelizmente, não está cá». A boa nova: «O Indie vai começar já já».
Apenas era preciso fazer falar os directores e o plano de festas seguiria. Miguel Valverde, Nuno Sena e Rui Pereira discursaram sobre as conquistas da «Zero em comportamento», a associação cultural que há cinco anos consegue por de pé o festival. Sobre os heróis independentes deste ano que conseguiram convencer a vir até Lisboa ( Johnnie To e José Luis Guerín). Sobre os filmes que vão deixar os cinéfilos da cidade com problemas de agenda.
Ao podium subiu também a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, Maria Rosalia Vargas, que teve o condão de conquistar as cerca de 800 pessoas sentadas na sala um do São Jorge. Pediu ao presidente, António Costa, para a dispensar das reuniões porque queria assistir aos filmes do certame, disse que não ia cantar mas decidiu citar a música de Rita Lee. Mesmo com os atropelos da memória, à terceira lembrou-se da letra. Definitivamente, nunca Lisboa tinha pensado aplaudir daquela forma os versos «No escurinho do cinema chupando drops de anis, longe de qualquer problema, perto de um final feliz».