Sobre o regresso (ou a passagem da televisão para o cinema) de Sexo e a Cidade, há que dizer que os comentários catastróficos não fazem, na humilde opinião desta que vos escreve, grande sentido. Deixo-vos as notas sobre o filme, directamente do sítio do costume, escritas por uma assumida fã da série.
Charlotte continua a eterna falsa pudica, Samantha ainda é uma lady na mesa e uma louca na cama, Miranda é agora uma mãe dos subúrbios e Carrie permanece a céptica mais crente no amor que Nova Iorque tem para oferecer. Durante seis anos a televisão assistiu ao teclar de Carrie Bradshaw, a colunista das relações falhadas, dos solteiros disponíveis e dos conselhos para a típica mulher da cidade mais cosmopolita do planeta. Em Sexo e a Cidade acompanhámo-la e às suas outras três damas de honor numa espiral de vestidos, noitadas, sapatos (sinónimo de Manolos) e na busca quase desesperada de um amor que todas queriam mas em que nenhuma parecia confiar. Cinco anos depois, numa sala grande e em versão alargada, estará a cidade na mesma? E o sexo?
Cinco anos passaram desde que vimos Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker) parecer ter o happy ending que tanto desejava mas o seu vestido branco e dourado com uma gigante flor ao peito ainda é razão suficiente para parar o trânsito. Talvez não crie um engarrafamento mas faz com que as aspirantes a ícone da moda da porta ao lado se virem para trás e cobicem a original.
Ela é a original, a genuína, a única que pode escrever sobre sexo sem parecer vulgar e usar todas as marcas de topo sem parece fútil. E mesmo que a futilidade exista, está lá em dose saudável. Vamos ver Sexo e a Cidade. Estamos à espera de quê? Drama profundo com reflexões filosóficas? Não. Nunca.
A versão cinematográfica não envergonha os anos de vício televisivo que deixaram muitos fãs (provavelmente mais muitas do que muitos) a suspirar de saudades mas serve também para os que julgam que Sexo e a Cidade é apenas um filme porno com actrizes conhecidas. Para os que não sabem ao que vão – ou para os namorados contrariados a acompanhar a metade feminina do casal-, há uma recapitulação logo à cabeça, um momento destinado aos que nunca viram isto mas que vão descobrir, de forma apressada e pouco inspirada, quem são as nossas meninas.
É quando saltamos para o presente, para junto delas, algumas fora da cidade que as uniu, que percebemos que as mudanças desde o último episódio da série foram muitas. Não na personalidade mas nas circunstâncias.
Samantha (Kim Catrall) vive, trabalha e dorme em Hollywood com Smith Jerrod, o actor borracho que a acompanhou nas piores alturas. Charlotte (Kristin Davis) está feliz e casada na cidade de sempre e continua a dividir a agenda entre os seus joggings matinais e a sua filha adoptiva. A casa de Miranda (Cinthia Nixon) continua a ter vista para a ponte de Brooklyn e Carrie está feliz com o seu Mr. Big (Chris Noth), com o relógio a gritar tic tac para que dêem o próximo passo: comprar uma casa…ou será mais?
Sexo e a Cidade não é um filme extraordinário mas, afinal, queríamos mesmo que fosse mais do que é? Que tivesse a profundidade de As Pontes de Madison County? Que fosse algo mais eterno do que Casablanca?
Se a resposta foi não, pode ir em frente e comprar bilhete. Não tem nenhum dos itens mencionados acima mas encontrará o mesmo humor sarcástico e atrevido a que a série nos habituou, a mesma visita guiada pela cidade de Nova Iorque e por todas as marcas de roupa, sapatos e acessórios mais caros (tanto dinheiro em product placement que ali rolou!) e a mesma cumplicidade entre as quatro amigas mais sui generis da história dos grupos femininos.
É um longo episódio (longo de mais, diga-se), fiel à série e em ritmo de bom entretenimento que podia ter carregado mais no acelerador no que diz respeito ao grau de atrevimento no humor e menos nos dramas pessoais de cada uma das protagonistas.
Se, no pequeno ecrã, os conflitos vão sendo resolvidos em compasso lento e muito bem orquestrado, aqui impunha-se a necessidade de criar os problemas, viver os episódios e ultrapassar os obstáculos até chegar ao suposto final feliz, de um só trago. O que é facto é que esta condensação é um dos grandes riscos das adaptações inspiradas na televisão.
Roubando à protagonista uma das suas frases de eleição, «não conseguimos evitar de pensar» nos defeitos de Sexo e a Cidade versão cinema mas rapidamente os esquecemos quando chegamos à conclusão que a cidade não mudou de atitude e de que o sexo ainda compensa.