Foram sete concertos, 100 horas de filmagens e 18 câmaras 3D. No fim, um concerto de rock com lugar sentado, numa sala escura sem espaço para exaltações. O espectáculo é dos U2, em 3D, com óculos que nem sempre favorecem a figura de quem os usa. A tecnologia parece ter vindo para ficar mas serão os concertos o objecto mais adequado para fazer com que os espectadores queiram ter o novo acessório da moda?
É a maior produção digital 3-D filmada ao vivo. O título não pretende enganar. Sim, U2 3D é um filme com direito a exibição nos cinemas. Sim, U2 3D não é um documentário. Sim, U2 3D é apenas um concerto. A banalidade do conceito é, no entanto, interrompida pela nova febre da sétima arte: a versão 3D das coisas.
Entramos para ver Bono e os seus actuar ao vivo, num concerto que, para os mais distraídos, pode parecer único mas que, surge neste formato depois de terem sido filmados espectáculos que passaram por sete cidades.
A banda aceitou o desafio dos irmãos Modell, família de pioneiros da tecnologia 3D digital no desporto, donos do estúdio 3ality e fãs assumidos da banda irlandesa, impondo apenas uma condição: os concertos filmados teriam de ser na América do Sul, o local onde Bono acreditava ter à sua espera o público mais caloroso.
Assim foi. Câmaras analógicas no lixo e 18 câmaras digitais espalhadas em cima, dentro, à volta e atrás do megalómano palco, som surround 5.1 e um mês para filmar tudo o necessário. À recebê-los tinham estádios a rebentar pelas costuras em metrópoles como a Cidade do México, São Paulo, Santiago do Chile e Buenos Aires. A comandar as operações, uma realizadora que sempre acompanhou os telediscos dos U2, Catherine Owens e Mark Pellington, senhor que, por exemplo, dirigiu o documentário sobre os Pearl Jam, Single Vídeo Theory.
A técnica foi peculiar. Num dos concertos filmavam-se apenas planos abertos, outro era dedicado aos close-ups. A certa altura, percebeu-se que havia a necessidade de mostrar a relação entre os membros da banda e invadir o seu próprio espaço para conseguir o efeito. O palco passou a ser cenário para os profissionais da câmara.
Técnica à parte, a set list inclui alguns dos mais emblemáticos temas dos U2, como Sunday Bloody Sunday, um Where the streets have no name que incita a saltar da cadeira de cinema e um Miss Sarajevo sem Pavarotti mas com o público a invadir o ecrã em total estado de hipnose.
No entanto, um concerto editado tem destas coisas. Para os que estiveram na passagem da Vertigo Tour por Alvalade, será fácil perceber que estes U2 no cinema não são os mesmos que nos visitaram. Bono pouco interage com o público, o alinhamento das canções não é dos mais brilhantes e, claro, o concerto é mais curto do que deveria. Também o atrevimento com os efeitos 3D pouco passa para lá das imagens no concerto e das letras nos créditos como se, a medo, se estivesse a testar um público ainda pouco habituado a estas andanças.
Depois de Beowulf, estreado em 2007, e do recente Hannah Montana and the Miley Cyrus, U2 3D entra para a lista de estreias a três dimensões naquele que, aparentemente, é um boom candidato a moda.
Ficam no ar muitas dúvidas sobre se será um espectáculo musical o melhor objecto para experimentar o 3D no cinema. Com óculos, sem cantorias nem saltos, mesmo que Bono estenda a mão até nós, a experiência concerto pode sair prejudicada.
Talvez a anunciada versão 3D de O estranho mundo de Jack seja a prova definitiva de que o público português precisa para aderir ao novo e muito requisitado acessório de moda a desfilar nas próximas colecções.