Quinta-feira, 7 de Fevereiro de 2008

Do vale do Elah vem a batalha dos pequenos contra os gigantes

Também com passagem aconselhável pelo cinema mais próximo.

Em vésperas de Óscares, chega a Portugal o filme com um dos nomeados para melhor actor. Tommy Lee Jones é Hank Deerfield, um veterano de guerra que perde os seus dois filhos para o país que serviu toda a vida. Este é o grito de protesto que o realizador/argumentista Paul Haggis quis fazer contra a guerra no Iraque. Três mil anos depois, David volta a enfrentar Golias «No Vale do Elah».

A temporada de intervenção política no cinema prossegue em força. O descontentamento entre os americanos parece surgir em muitas áreas e os filmes não são excepção. Só nos últimos meses a chuva foi intensa. «Censurado» de Brian de Palma, «Jogos de Poder» de Mike Nichols, «Detenção secreta» de Gavin Hood ou «Peões em Jogo» de Robert Redford já prefazem um número suficientemente significativo para nos atrevermos a dizer que estamos a assistir ao nascimento de um quase género. O género «estamos-preocupados-com-o-que-se-passa-no-país». A onda tem sido forte e, salvo em casos pontuais, tem trazido produtos de qualidade.

O filme de Paul Haggis (oscarizado com o seu «Crash» e argumentista de «Million Dollar Baby» ou «Cartas de Iwo Jima») é mais um exemplar a ter em conta.

Com um elenco de estrelas, com Tommy Lee Jones à cabeça, «No Vale do Elah» vai buscar o título à passagem da Bíblia que conta a história em que o pequeno David luta contra o gigante Golias. O terreno de batalha terá sido este vale, algures em terras israelitas. Hoje é apenas um lugar turístico de passagem.

Metáfora para a pretensão de Haggis, o vale do Elah simboliza a presença americana no Iraque sob um ponto de vista de acordo com o qual ela, não só não fará sentido, como deixará marcas profundas no país e em quem de lá regressa.

Mike Deerfield (Jonathan Tucker) é o soldado central. Pouco tempo depois de regressar do Iraque, desaparece sem deixar rasto. O pai Hank (Tommy Lee Jones), um veterano de guerra do mais patriótico que a América tem para oferecer, recebe a notícia de que se desconhece o paradeiro do filho e parte em busca de respostas.

Rapidamente a notícia mais temida chega pela voz de um oficial. Facilmente se entende que a morte de Mike está envolta em histórias mal contadas. Em casa, a mãe (Susan Sarandon) culpa Hank por ter perdido os dois filhos (o primeiro também já tinha morrido em combate) e revolta-se contra os efeitos da guerra nos soldados.

Lá fora, numa guerra longe da frente, Hank é ajudado por uma detective (Charlize Theron) que não se conforma com o facto de o exército querer tomar conta da investigação nem permite que se esconda a verdade.

O mais interessante em «No Vale do Elah» será acompanhar o que fica para lá do conflito. Lá, no cenário de guerra, tudo parece permitido e os episódios macabros sucedem-se. Vamos percorrendo alguns através de gravações no telemóvel do soldado que trazem à cena o cenário iraquiano. De volta a casa, a decadência psicológica é profunda e não será fácil deixar o Iraque para trás. Depois do regresso, os pequenos continuam a lutar contra os gigantes. A causa foi perdida mas o mal feito não se esquece.

Estas são as ideias no panfleto do filme. Apoie-se ou não a reivindicação, o ponto de vista é vincado de forma directa, em camadas. À primeira vista, o fardo fica no estado psicológico dos jovens soldados. Num segundo patamar, passa para o veterano de guerra que protagoniza a fita. Sempre fechado em si mesmo. Quase nunca querendo mostrar a emoção que leva para a cama à noite numa interpretação que deixa Tommy Lee Jones na lista de espera para os Óscares.

Por fim, a responsabilidade passa do realizador para todos os espectadores, questionando-os sobre se esta é a estratégia política correcta a a utilizar e mostrando-lhes caras anónimas de soldados que morreram pela causa. E é aqui que o filme tende a tornar-se exaustivo.

De insinuações bem filmadas, originalmente escritas e cheias de segundos sentidos, «No Vale do Elah» avança progressivamente para um final repleto de chamadas de atenção detalhadas que podem distrair o espectador do verdadeiro sentido cinematográfico da obra. Afinal, a fita é uma obra ficcional ou uma carta de intenções políticas disfarçadas (ou nem por isso)?


Mais logo volto com John Rambo numa opinião mais descontraída do que os artigos mais formaizitos que acabo de vos deixar.

 

publicado por Quanto Mais Quente Melhor às 11:24
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